03 de novembro de 2017 – 08:20:14
As Forças Armadas do Brasil estão organizando um exercício militar na selva amazônica envolvendo forças dos Estados Unidos, da Colômbia e do Peru. A ideia é simular a criação de uma base militar multinacional para atender emergências humanitárias.
Mas o que vai acontecer na prática?
“Nesse exercício, é bom que a sociedade saiba, só quem está armado é o Brasil, que vai dar segurança a essa base. É o país hospedeiro, como nós chamamos. Colômbia, Peru e os Estados Unidos vêm desarmados”, disse o general Theophilo.
“Eles vão participar de um esforço montando um hospital de campanha, montando uma (rede de) captação de energia solar, equipamentos de purificação de água e um posto de fornecimento de combustível”, disse o general.
Inspiração na Otan
Imigrantes e refugiados no Brasil
“Em termos de refugiados nós já tivermos uma experiência com os haitianos. Não tínhamos ainda preparado um suporte para a recepção desses refugiados, então hoje nos preocupa, lógico”, disse Theophilo.
“Nós temos a participação da Venezuela (no exercício), o número de refugiados (venezuelanos) que está aumentando cada vez mais na área de Roraima e já no Estado do Amazonas.”
“Devido à prolongada crise política e econômica que afeta a Venezuela, incluindo altas taxas de homicídio e a inflação – que pode atingir os 2.300% ano que vem -, é provável que o Brasil continue a receber um fluxo de solicitantes de refúgio e migrantes econômicos”, disse.
“Pode-se especular que o Brasil também se torne destino de refugiados da América Central, sobretudo do chamado Triângulo Norte (Honduras, Guatemala e El Salvador). Esses países registram as maiores taxas de homicídios no mundo e a violência extrema tem forçado o deslocamento de centenas de milhares de pessoas todos os anos”, disse Muggah.
General: “(os EUA) estão colaborando para um bem maior”
“Nós fomos aos Estados Unidos convidar para a participação deles”, disse Theophilo.
“Estando com a gente é muito melhor do que venham secretamente e façam pesquisas no interior na mata como nós vimos muitas vezes, eu que vivi na Amazônia por seis anos. Eles estão controlados e estão colaborando para um bem maior que é a ajuda da população carente”, disse.
Professor vê ” fragilização do Conselho de Defesa Sul-Americano”
“O exercício, como divulgado, acaba por envolver a participação das Forças Armadas em várias áreas e questões alheias às propostas de emprego contra ameaças externas e oriundas de Estados, uma demonstração de fragilização do Conselho de Defesa Sul-Americano. Indica que assuntos regionais passam a ser tratados com a participação de forças extrarregionais, diferentemente do que foi proposto quando da criação da Unasul”, disse.
“Desde governos anteriores vem crescendo o emprego das Forças Armadas em atividades na área de segurança e patrulhamento e vigilância de fronteiras”, disse.
“Para o Brasil, o estreitamento de laços com os Estados Unidos também é interessante do ponto de vista tecnológico e comercial, aspectos esses que podem ser discutidos durante iniciativas como o Amazonlog”, disse.
O que diz a embaixada dos Estados Unidos
“O Brasil e os Estados Unidos têm sido parceiros fortes há muito tempo, e nós valorizamos a relação rica e multifacetada que temos com o Brasil, incluindo nossas forças militares”, afirmou a embaixada americana em comunicado.
Quanto isso vai custar? Haverá algum legado?
“No passado nós tivemos um incêndio florestal na Amazônia e a primeira equipe que chegou foi uma equipe de bombeiros da Argentina. Então eu acho que isso mostra um pouco de falta de planejamento, de falta de estar preparado para as grandes calamidades”, disse o general Theophilo.
“(Hoje) não há uma coordenação por parte dos países (da América do Sul) que participam nessa ajuda. Muitas vezes sobra alimento, sobra remédio ou falta alguma coisa.”
“Esse é o grande legado, é a grande doutrina”, disse.